sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Queria que a vida fosse uma novela do Manoel Carlos


Queria Que A Vida Fosse Uma Novela Do Manoel Carlos

O verão, para o pobre, é uma merda mesmo. Calor de 42 graus, tempestade elétrica no fim da tarde, contas de luz e telefone nas alturas, IPVA, IPTU, material escolar, cartão de crédito estourado do Natal. Sem falar do rotavírus, do Big Brother e da alta da cerveja. Todo ano é igual: paredão, engarrafamento para a praia, areia na sunga e ruas alagadas. Suor, muito suor. Suor no rosto, nas costas e na canela, escorrendo como uma lágrima até o pé. Vida dura essa. Mas poderia ser perfeita, caso Manoel Carlos ocupasse o lugar de Deus no verão.
Primeiramente, não haveria pobreza no Brasil. Todos viveríamos nos melhores apartamentos do Leblon. Não importa a sua profissão: do porteiro ao gari, todo mundo viveria bem. Viajaríamos pelo mundo, mesmo que estivéssemos desempregados. O Rio de Janeiro só teria praias lindas, rodeadas pelo Corcovado e Pão de Açúcar. Não haveria subúrbios, trens, ônibus lotado, avenida Brasil engarrafada e Baixada Fluminense. O negro da favela, ao invés de seus tantans e pandeiros, tocaria bossa nova como João Gilberto, admirando o barquinho a deslizar no macio azul do mar. Em todas as festas tomaríamos champagne, ao som de música ambiente. Tudo light. Tudo calmo. Tudo clean.
Se Manoel Carlos fosse Deus, os miseráveis da classe F morariam no Morro Dona Marta, em Botafogo. Teriam casas gratuitamente, além é claro, de Polícia 24 horas, internet banda larga e teleférico panorâmico. Então, já sabe: se te faltar tudo na vida, não vá pra debaixo do viaduto. Há uma casa de 70 mil reais esperando por você na zona sul carioca. Quem sabe encontre o Thiago Lacerda tirando fotos para seu trabalho de fotógrafo idealista ?
Se o velho Maneco fosse eleito, não precisaríamos de vagas para estacionar os carros. Pararíamos onde bem entendêssemos, de preferência na Avenida Atlântica em frente à praia. Poderíamos até parar o carro em cima do calçadão, que não apareceria guarda nenhum para nos canetar. Se bem que eu gostaria mesmo era de ser médico no mundo perfeito do Manoel Carlos. Imagine só: trabalharia em um hospital maravilhoso, classe A. Não teria horários e poderia ficar o dia inteiro na lanchonete. E, evidentemente, ganharia o suficiente para morar em uma mansão, ter 3 carros importados na garagem e morar no melhor ponto do Leblon. Ah, também aceito ser enfermeiro. Ou porteiro. Ou Jardineiro.
Mas, no fundo, eu quero mesmo é ir para Búzios. Mas não para a cidade que falta água, saneamento e iluminação pública. Não quero essa cidade de praias lotadas e hotéis impessoais. Eu quero é Búzios do Maneco ! Ruas tranquilas, poucas pessoas e muita paz. Além da pousada paradisíaca, do mar caribenho e da ausência de cobrança de diárias. Ninguém paga na pousada de Búzios do Maneco. Aliás, é tão boa, que nem hóspedes têm pra te encher o saco. Melhor que isso, só o escritório de arquitetura do Jorge. Não faz projeto algum, tem uma secretária gostosa e uma sócia melhor ainda. Vida boa essa que o Maneco nos dá !
Mas o Homem irá mais além: fará a tetraplégica andar. Talvez ele seja a solução para o Haiti.
Hora da volta à rotina, pois a Luizinha está chorando. Mas daqui a pouco eu ligo a tv, pois não dá pra viver sem o Manoel Carlos.

ANDRÉ FAXAS
janeiro 2010

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