sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

LULA

Ontem ouvi na Band News FM uma notícia que me deixou estupefato: o Brasil conseguiu juntar o dinheiro para pagar a dívida externa. Mais que isso: mesmo pagando todo o valor, ainda sobrariam vários bilhões em reservas. Tenho trinta e cinco anos de idade e durante toda a minha vida sempre ouvi e li que o grande problema do nosso país era o pagamento dessa maldita dívida. Passei pelo fim da ditadura militar, pelo período “cruzado” do Sarney, pela era Collor, pelo Itamar e pelo almofadinha intelectual do FHC e seus tucanos. Durante todos esses anos, ouvi muito se falar de FMI, de moratória, de calote na dívida e de acordos de refinanciamento de débitos. Mas nunca, em tempo algum, ouvi a notícia que foi dada ontem: podemos pagar a dívida externa ! Para os mais novos pode parecer uma notícia como outra qualquer, mas, tenham certeza, não é. Durante mais de trinta anos, o Brasil pegou empréstimos com FMI para tampar buracos oriundos de gastos públicos excessivos. Precisou dos agiotas internacionais para salvar-se de sua própria incompetência de gestão. Nosso país gastava mais do que arrecadava e, com isso, como na nossa vida financeira, precisava de recursos de terceiros para não quebrar. Com isso, o montante foi crescendo, os juros se multiplicando e o dinheiro que deveria ser gasto com saúde, educação e infra-estrutura foi, obviamente, minguando. Muito do estado lamentável em que se encontram nossos serviços públicos essenciais é resultado desse matemática. Portanto, o que estou relatando é um fato concreto, não uma opinião pessoal. Aliás, opinião pessoal vou dar a partir de agora.
Durante a adolescência, orgulhava-me do meu “botton” que usava no peito. Um “botton” branco, com uma grande estrela vermelha onde lia-se a sigla “PT”. Tinha absoluta convicção que ali estava a resolução de todos os problemas sociais de nosso país. Que o PT significava a mudança, o conserto dos males e a expulsão´daqueles que nos roubavam e reprimiam. Que o socialismo era a opção correta para um país que necessitava exterminar as desigualdades e impor um modelo de justiça social, liderada por aqueles que mais sofriam, os trabalhadores. Eu queria também que os Estados Unidos sucumbissem (para não dizer se fodessem – aliás, ainda quero), que a Coca-Cola fosse extinta do país e que a Globo fosse estatizada. Reivindicava até mesmo o confisco do bens dos ricos e a luta armada por parte da classe proletariada. Mas a juventude passou. E passou para o PT também.
Quando o PT venceu a eleição de 2002, pensei: chegou nossa vez. Mesmo não tão louco e jovem como antes, ainda pairava em mim a indignação, a rebeldia. Ainda via pelas as ruas a miséria e a ignorância. Ainda via crianças nos sinais e pais de família sem trabalho. Ainda via poucos com muito e muitos com pouco. Estava ali minha redenção: o PT estava no poder e seria um exemplo de um governo sério, honesto, firme e justo. Apesar de ateu, dei graças a Deus pela debandada dos tucanos liberais e dos reacionários do PFL. Os trabalhadores tomavam o poder no lugar do patrões e, enfim, a justiça social seria feita em nosso país. Viria a reforma agrária, a educação e saúde nos moldes cubanos, a transparência na gestão e o fim da corrupção. Porém... ah, os poréns da vida, pouco ou nada disso se concretizou. O que eu vi foi a manutenção de uma política econômica conservadora, vi as mesmas caras de sempre comandando os ministérios, vi alianças com a direita populista e o pior, vi muita, muita corrupção. Vi Valdomiro Diniz, vi Marcos Valério, vi Delúbio, vi mensalão. Vi José Dirceu e José Genuíno, dois ícones da minha formação política, envolvidos até o pescoço em esquemas de caixa 2, tráfico de influência, prevaricação e desvio de dinheiro público. Todos os meus sonhos foram para o ralo e a decepção tomou conta de mim. Decepção e indignação com aqueles que, eu julgava ser, ilibados, dignos e honestos, como a maioria dos trabalhadores do Brasil. Quebrei a cara. Falando em cara, teve um que livrou a sua.
Até agora não mencionei o nome citado no título da crônica, mas, não tenham dúvidas, ele venceu o jogo. Venceu pela astúcia, pela inteligência, pela destreza. Uma vitória de quem passou quase intocado por tudo que o PT passou. Talvez por sua simpatia, seu carisma, sua barba grisalha e seu linguajar popular que, inevitavelmente nos tocam e nos inspiram uma confiança inexplicável, apesar dos despautérios que ocorreram e ocorrem. Mas ele é o cara. O cara que pagou a dívida externa ! O cara que tirou da miséria total cerca de 5 milhões de brasileiros, através do bolsa-família. O cara que me faz ter um padrão de vida que nunca antes supus obter (mesmo na juventude). E isso é fato, não opinião pessoal. Pois é, acho que o PT se foi. Ou alguém pode citar um nome do partido capaz de vencer a eleição em 2010 ? Que enfrente a maldita tucanada e seus reacionários demos ? Bem, do futuro, definitivamente, nada sei. Assim como deletei Marx e Engels na minha memória, posso fazer o mesmo com a decepção moral que tive. Afinal, sou brasileiro, e sempre dou uma cervejinha para o guarda quando o IPVA do meu carro está atrasado. E vou continuar amando e odiando o barbudinho pernambucano, pois ele é mais ou menos como nós: tem tudo pra dar errado, mas deu certo.

ANDRÉ FAXAS

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