Mesmo que fosse catedrático, com doutorado em Harvard ou na Sorbonne, não conseguiria dissertar com clareza sobre o tema desta crônica. Mesmo que fosse um sábio mestre hindu, ou que tivesse poderes divinatórios, não saberia explicar com lógica a razão das palavras que virão a seguir. Aliás, razão e lógica são coisas que não se encaixam nos seres a quem dedico essas frases prolixas. Seres maravilhosos, complexos e incoerentes. Seres a quem amo, odeio, sofro, machuco, preciso e quero. Seres que me fazem existir em folhas de papel: minhas mulheres.
Quando digo minhas, é no sentido de dependência, necessidade. Sem elas não me surgiriam letras, não me brotaria sensibilidade. Sem elas envelheceria, tornaria-me pedra bruta, não aprenderia lições. Pois é, estou tão perdido quanto às mulheres dentro das boutiques, tão indeciso quanto elas a frente do guarda-roupa. Mas de homem em mim, agora, só me sobrará o tempo breve desta crônica. No mais, serei íntegro, serei justo, leve e indecifrável, suave e impiedoso. Serei um pouco mulher a partir de hoje.
À minoria de leitores homens que tenho, minhas desculpas: não haverá confronto, luta, enfrentamento. Não haverá competição, guerra dos sexos. Simplesmente pela razão de sermos de fato inferiores, primários e rudes, menores. E a vocês, amigos, um alerta: não sejamos apenas o pênis. Sejamos mais, penetremo-nas a alma, o espírito. Façamos o possível para que notemos os irreparáveis e mínimos cortes e tonalidades da cor de seus cabelos, elogiemos seu corpo, ouvimo-nas sem impor soluções para problemas, elas já as têm. Calemo-nos durante a menstruação, abstenhamo-nos do futebol na TV de vez em quando. Sejamos seus príncipes, mesmo que nosso lado sapo insista em aparecer.
Amo-as e odeio-as na mesma medida, irrito-me, delicio-me, aprendo a cada dia. Por elas escrevo, por elas perco minhas palavras. Falo, calo, me faço melhor a cada dia. Por elas me alimento, me divirto, sofro calado, sonho e almejo. Por elas me atormento, perco a paz, as protejo. São elas que atordoam meus sentidos, aguçam meus desejos. Delas me surgem seus corpos, suas formas, meus instintos. Com elas me inspiro, me fortaleço, me apequeno. Por elas existo.
Aos que as humilham, as oprimem, as agridem: a morte. Danem-se os que as desprezam, as vêem subservientes. Estrepem-se os que coçam o saco no sofá, os que deixam a tampa da privada levantada. Fodam-se os que as machucam e as ferem. Percam, os que as têm e não dão o devido valor. Sofram, aqueles que não sabem o que é o amor de uma mulher. Sejamos o mêcanico forte e sujo de graxa, quando elas quiserem. Sejamos o amigo homossexual que lhe alegra os ouvidos. Sejamos a parceira confidente de seus segredos, sejamos o pai, o irmão e o filho quando preciso. Sejamos o bouquet de flores ou a lingerie sexy, quando elas assim quiserem. Falemos eu te amo no ouvido, quando ansiarem. Ou a chamamos de putinha, quando elas assim pedirem. Gozemos apenas na hora em que elas autorizarem, mantenhamo-nos carinhosos e atenciosos, mesmo no cansaço pós-ato. Aceitemos suas amigas chatas e a vendedora da Avon, evitemos dormir durante um filme de arte ou de amor. Não falemos de amores passados, nem arrotemos na mesa da sala. Consertemos o encanamento do banheiro, mas nunca percamos a ternura de sermos crianças. Sejamos fiéis, mesmo que as tentações sejam grandes. Amemos a uma só, mesmo que existam outras tantas e tão boas quanto. Sejamos másculos e meninos, divertidos e sensíveis, ansiosos e pacientes. Sejamos tão dignos de amor quanto elas, lutemos pela igualdade, mas nunca nos esqueçamos que elas serão sempre mulheres. Serão eternamente meninas, debutantes em seus sonhos de felicidade e satisfação. Mesmo que, de tão satisfeitas, sempre se insatisfaçam com o mundo. Sejamos mulheres com pênis.
Conforme o prometido, pouco esclareci, pouco me esclareci. A crônica aproxima-se do fim e menos as entendo. Apenas tento amá-las mais a cada dia, tento-me exercitar na árdua missão de escutá-las, de obedecê-las. Treino para um dia ser um homem no mínimo bom, digno de estar a seu lado. Rezo para que meu amor seja pleno, livre de mágoas e erros. Rogo para que sempre provoque a coisa mais linda do mundo: o sorriso de uma mulher. Pois bem, mesmo sendo homem em toda plenitude, acho que a partir de hoje me tornarei um pouco mais feminino, mais humano, mais feliz.
Quando digo minhas, é no sentido de dependência, necessidade. Sem elas não me surgiriam letras, não me brotaria sensibilidade. Sem elas envelheceria, tornaria-me pedra bruta, não aprenderia lições. Pois é, estou tão perdido quanto às mulheres dentro das boutiques, tão indeciso quanto elas a frente do guarda-roupa. Mas de homem em mim, agora, só me sobrará o tempo breve desta crônica. No mais, serei íntegro, serei justo, leve e indecifrável, suave e impiedoso. Serei um pouco mulher a partir de hoje.
À minoria de leitores homens que tenho, minhas desculpas: não haverá confronto, luta, enfrentamento. Não haverá competição, guerra dos sexos. Simplesmente pela razão de sermos de fato inferiores, primários e rudes, menores. E a vocês, amigos, um alerta: não sejamos apenas o pênis. Sejamos mais, penetremo-nas a alma, o espírito. Façamos o possível para que notemos os irreparáveis e mínimos cortes e tonalidades da cor de seus cabelos, elogiemos seu corpo, ouvimo-nas sem impor soluções para problemas, elas já as têm. Calemo-nos durante a menstruação, abstenhamo-nos do futebol na TV de vez em quando. Sejamos seus príncipes, mesmo que nosso lado sapo insista em aparecer.
Amo-as e odeio-as na mesma medida, irrito-me, delicio-me, aprendo a cada dia. Por elas escrevo, por elas perco minhas palavras. Falo, calo, me faço melhor a cada dia. Por elas me alimento, me divirto, sofro calado, sonho e almejo. Por elas me atormento, perco a paz, as protejo. São elas que atordoam meus sentidos, aguçam meus desejos. Delas me surgem seus corpos, suas formas, meus instintos. Com elas me inspiro, me fortaleço, me apequeno. Por elas existo.
Aos que as humilham, as oprimem, as agridem: a morte. Danem-se os que as desprezam, as vêem subservientes. Estrepem-se os que coçam o saco no sofá, os que deixam a tampa da privada levantada. Fodam-se os que as machucam e as ferem. Percam, os que as têm e não dão o devido valor. Sofram, aqueles que não sabem o que é o amor de uma mulher. Sejamos o mêcanico forte e sujo de graxa, quando elas quiserem. Sejamos o amigo homossexual que lhe alegra os ouvidos. Sejamos a parceira confidente de seus segredos, sejamos o pai, o irmão e o filho quando preciso. Sejamos o bouquet de flores ou a lingerie sexy, quando elas assim quiserem. Falemos eu te amo no ouvido, quando ansiarem. Ou a chamamos de putinha, quando elas assim pedirem. Gozemos apenas na hora em que elas autorizarem, mantenhamo-nos carinhosos e atenciosos, mesmo no cansaço pós-ato. Aceitemos suas amigas chatas e a vendedora da Avon, evitemos dormir durante um filme de arte ou de amor. Não falemos de amores passados, nem arrotemos na mesa da sala. Consertemos o encanamento do banheiro, mas nunca percamos a ternura de sermos crianças. Sejamos fiéis, mesmo que as tentações sejam grandes. Amemos a uma só, mesmo que existam outras tantas e tão boas quanto. Sejamos másculos e meninos, divertidos e sensíveis, ansiosos e pacientes. Sejamos tão dignos de amor quanto elas, lutemos pela igualdade, mas nunca nos esqueçamos que elas serão sempre mulheres. Serão eternamente meninas, debutantes em seus sonhos de felicidade e satisfação. Mesmo que, de tão satisfeitas, sempre se insatisfaçam com o mundo. Sejamos mulheres com pênis.
Conforme o prometido, pouco esclareci, pouco me esclareci. A crônica aproxima-se do fim e menos as entendo. Apenas tento amá-las mais a cada dia, tento-me exercitar na árdua missão de escutá-las, de obedecê-las. Treino para um dia ser um homem no mínimo bom, digno de estar a seu lado. Rezo para que meu amor seja pleno, livre de mágoas e erros. Rogo para que sempre provoque a coisa mais linda do mundo: o sorriso de uma mulher. Pois bem, mesmo sendo homem em toda plenitude, acho que a partir de hoje me tornarei um pouco mais feminino, mais humano, mais feliz.
ANDRÉ FAXAS
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