quarta-feira, 5 de março de 2008

UMA GERAÇÃO BURRA

Nunca pensei que meu lado reacionário fosse despertar um dia. Logo eu, moderninho assumido, liberal convicto e democrata de índole. Logo eu, todo prosa por minha mente jovem e aberta, estou aqui para rejeitar o novo. Talvez mais, talvez lamento ao novo. Pois, o que surge e o que se promete surgir, está muito aquém do desejável.
Minha geração surgiu numa entressafra: tínhamos a missão de substituir duas gerações brilhantes, mesmo sem possuir a genialidade dos 60 ou sem a rebeldia dos 70. Como diria o mítico Renato Russo, éramos os “filhos da revolução”: jovens que tiveram uma infância farta, devido ao milagre econômico dos militares e educados seguindo os rigores da caserna do Estado. Estudávamos “Educação Moral e Cívica” no primário e catecismo na igreja. Quase nada sabíamos, além daquilo que o regime vigente nos permitia saber. Tesão, só nos seios minguados da Sônia Braga e nas pornochanchadas rodrigueanas exibidas nas madrugadas da Bandeirantes. Música, só Roberto Carlos para os românticos e Sidney Magal para os animados. Televisão, apenas o Sítio do Pica-Pau Amarelo para às crianças e novelas da Janete Clair para os adultos. Tínhamos tudo para ser uma geração de merda, apesar das qualidades do Sítio, da Janete, da Sônia Braga, do Roberto Carlos e até mesmo do Sidney Magal, o MC Creu da época. Mas, felizmente, não fomos. Mesmo inferiores intelectualmente a nossos antecessores, conseguimos dar a volta por cima e deixamos boas coisas na História.
Toda minha geração nasceu aos dez, onze anos de idade. Viemos ao mundo em 1985, com a abertura política. De repente, um furacão de informações a nós sonegadas, inundava as mentes, como se uma década de cegueira recebesse córneas novas. Do nada, nos surgiam Chico e Caetano, Karl Marx, Fernando Gabeira, “O Último Tango em Paris”. De repente, livros foram devorados com a fome de um Ogro. Verdades absolutas poderiam ser contestadas e a rebeldia típica da juventude poderia, enfim, fluir. Os filhos da revolução puderam então lançar seus ícones e desenvolver uma consciência crítica do mundo. Tudo bem, nada assim tão relevante, mas dificilmente um homem ou mulher acima dos trinta, fica calado em uma conversa sobre qualquer assunto na mesa de bar. Porque, nos anos 80, a cultura do saber estava interligada à da diversão. Saber, não necessariamente intelectual, acadêmico. Saber por saber, apenas. Por necessidade de sobrevivência, por tesão.
Queria muito evitar, neste artigo, o velho clichê “no meu tempo...” Queria também não escrever “mas hoje em dia...” No entanto, não vou conseguir não fazê-lo. Pois, no meu tempo, que por sinal é hoje, ser bom era ter conteúdo. Era ter personalidade, opinião. Era ter consciência do que ocorre no mundo, era posicionar-se em relação a qualquer coisa que lhe fosse questionada. No meu tempo, erros de português eram admitidos, mas frases indecifráveis pouco se viam. Vivemos na era da preguiça, da acomodação ignorante. Estamos em um tempo de mediocridade, de pobreza de espírito. E não digo isso apenas aos desprovidos do destino, que pouco acesso têm à educação. Escrevo para a juventude que estuda, que acessa a Internet. Que muito tem de técnica específica, mas pouco de criatividade. Que sabe tudo de informática, mas que ignora o nome do Ministro da Ciência e Tecnologia. Que não lê jornal, não opina sobre nada e que só vive em função do dinheiro e do prazer. Geração que não vai ao cinema e ao teatro. Geração que não deixará legado algum na música e na pintura. Tecnicistas, epicuristas e chatos, sob a manta do “politicamente correto”.
Presas fáceis dos demagogos e malandros acima dos trinta.

ANDRÉ FAXAS

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